Uma sessão de psicodrama psicanalítico quase sempre funciona com várias camadas de condensação cheia de significados e significantes simbólicos como se de um sonho se tratasse, à espera de ser pensado ou não completamente, por um sonhador livre, confiante, seguro e sereno.
Somos técnicos de um laboratório de sonhos onde, de forma protegida e segura, se podem experimentar, vivenciar e elaborar todo o tipo de emoções e integrá-las de forma mais saudável, onde se promove a espontaneidade e se permite o surgimento de todo o tipo de mecanismo de defesas as quais são vistas perante os óculos da psicanálise como equitativamente importantes e relevantes.
Assim, se fosse possível trazer as várias “adolescências” para uma sessão de psicodrama, com as suas crises identitárias e não só… eu sonharia assim…
O tema que surge na conversa é a vontade de sair de casa e de independência mas, não se sabe como, isto é sentido por algumas pessoas do grupo, como impossível. Veio-me logo a imagem metafórica do primeiro voo dos pássaros que querem sair do ninho: têm segurança interna para isso? Como as figuras paternas vão reagir? Vão apoiar e servir de rede ou vão retaliar? Ou nem sequer o permitem e atrofiam as crias? Sugiro uma dramatização em circulo, em que fazemos uma gaiola e o pássaro no meio tenta sair sem que o grupo/ gaiola deixe. O pássaro tem de se esforçar para se esgueirar. Foi surpreendente como o pássaro que tanto queria sair da conversa, não sabia como sair da gaiola, como o pássaro preso numa casa sem privacidade e muitas vezes sem conseguir usar a palavra no grupo, está desesperado por ter espaço para existir e se esgueira muito facilmente … outro pássaro que tem de tomar conta da mãe doente e não consegue voar… outro com pais idosos e protetores apanha a gaiola desprevenida e tem um gozo enorme em conseguir voar… e não esqueçamos o pássaro nascido numa gaiola que acredita que voar é uma doença …. e assim por diante.
Como coabitam dentro de nós todas as partes ambivalentes as que acreditam em nós e as que não acreditam ou que criticam. Ainda recentemente ouvia o sonho de uma adulta recém mamã que só agora se permitia adolescer/crescer e sonhar com um abraço da sua mãe, já falecida, que a “perdoa” e é perdoada por inerência…
Viva a nossa arte da espontaneidade que tem como principal objetivo a flexibilização do mundo interno e a procura de seres mais livres, genuínos, únicos e especiais.
Até breve,
Lisboa, julho de 2024.
Joana Gonçalves
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